Uma visão histórica sobre a "melancolia" (depressão)

Bom dia, boa tarde ou boa noite? Como vai? Esse é um pequeno resumo, o qual iniciou meu estudo sobre Psicossomática e Psicologia da Dor em pacientes com depressão. Esses trechos abordam uma versão breve, porém completa de como os antigos lidavam com a depressão. Espero que esse resumo contribua para os seus estudos, caso fique alguma duvída confira o artigo original no site da Revista Pretextos.


As informações abaixo foram retiradas do artigo "DEPRESSÃO E SUICÍDIO: UMA CORRELAÇÃO" da Revista Pretextos da PUC Minas, 2018, v.3, escrito pelas autoras Gláucia Lopes Silva Assumpção, Luciele Aparecida de Oliveira, Mayra Fernanda Silva de Souza. 

     Após a Teoria dos Humores (bile negra, bile amarela, sangue e fleuma), Hipócrates formulou a primeira classificação nosológica (estudo, classificação e descrição das doenças) dos transtornos mentais, descrevendo e nomeando a melancolia, mania e a paranoia. Na perspectiva de Hipócrates, a melancolia era resultado de uma intoxicação cerebral pela bile negra, causando aversões alimentares, falta de ânimo, inquietação, irritabilidade, tristeza, ansiedade e tendência ao  suicídio, acompanhado pelo medo. Em vista disso, Hipócrates orientava mudanças na dieta indicando ingerir mandrágora e heléboro, ervas que eliminavam o excesso de bile negra e bile amarela.  Ele dizia também que os indivíduos podiam se curar através de conselhos e diálogos, e que a pessoa melancólica não podia ficar sozinha. Houve uma regressão da concepção da melancolia durante a idade média e a sua terminação foi trocada acídia (estado de descuido). A acídia tinha sua origem no desleixo com as coisas sagradas, com origens demoníacas e não tendo a possibilidade de cura.  

As influências demoníacas eram a razão dos estados apáticos, preguiça, indolência, negligência e enfraquecimento. As interpretações da acídia às influências satânicas estavam enraizadas no campo teológico e científico do período medieval e incluída nos sete pecados capitais, logo o sujeito melancólico tinha que pagar penitências, por meio de multas, ou até mesmo condenado ao aprisionamento, já que era um mal sem cura (GONÇALES; MACHADO, 2007  apud ASSUMPÇÃO,  OLIVEIRA,  SOUZA, 2018.)

            No Renascimento,  a doença mental é compreendida sob uma perspectiva biológica, filosófica e psicológica. O filósofo persa Avicenna descreve os sintomas da Melancolia (desconfortos físicos até desequilíbrios mentais: como medos irracionais, prejuízos no julgamento, falsas crenças e percepções distorcidas da realidade) e, deixando de lado a Alquimia, partindo dos pressupostos químicos de Lavosier (1743-94), os medicamentos para equilibrar a bile negra começam a ser criados. Nesse sentido, em seu livro a Anatomia da Melancolia, Robert Button (1621) também diferenciou a melancolia da mania, chamando esta de 'loucura'. A melancolia por  sua vez, dividiu em positiva: o estado de contemplação, a tristeza que gera sabedoria, passando a ser desejada por toda a Europa e, a negativa: o quadro crônico da doença, uma condição permanente relacionada ao suicídio que tornava o indivíduo preguiçoso, inquieto e inapto ao trabalho. 

Timothy Bright , em O Tratado da melancolia, propôs a diferenciação entre os estados de melancolias corpóreos e os estados melancólicos advindos, por meio, de estados espirituais, que caracterizavam uma gama de sofrimento em consonância a pensamentos pecaminosos (GONÇALES; MACHADO, 2007 apud ASSUMPÇÃO,  OLIVEIRA,  SOUZA, 2018.)

    Só com a ascensão do Iluminismo no séc. XVIII,  surgira, autores com outras propostas de pensamentos. Para Willian Cullen, adepto da visão mecanicista do homem, a melancolia era parte de um desequilíbrio entre regiões diversas do cérebro, que danificavam as faculdades cognitivas, consequentemente as articulações de pensamentos e ideias. Esta teoria enfraquecia as aspirações da teoria galênica dos humores. O sistema nosológico classificado por Cullen, propunha à melancolia como uma insanidade parcial, causada por oscilações das atividades neurológicas que influenciavam e afetavam as sensações, e os desejos (SOLOMON, 2002). A terminologia 'depressão'  é datada do séc.XIX e as pesquisas sobre a depressão começam a surgir na Universidade de Leipzig na Alemanha através dos estudos do professor Jhonhan Heinroth, professor de medicina psíquica na universidade supracitada. A partir daí começam as constatações com o termo "psicossomático", entretanto, os alunos de Heinroth não levaram avante as pesquisas do professor de medicina psíquica após a sua morte.  Sob tal ótica, na França, Philippe Pinel e, seu discípulo, Jean-Etienne Esquirol. Tais introduziram o caráter humanizado no tratamento da depressão, ou como eles diziam 'delírio sobre um assunto exclusivo. 

Nesse período, com as postulações de Pinel, defendia-se uma psiquiatria imune de ideologias religiosas, e com base em fundamentações teóricas e descrições precisas de manifestações clínicas. Esquirol, discípulo de Pinel  idealiza a psiquiatria como medicina mental e que, seus pressupostos devem estar amparados por bases neurobiológicas. A psiquiatria do início do século XX, com base nas teorias psicanalíticas de Freud e as análises neurobiológicas de Kraepelin sofreu grande influência. A psicanálise de Freud incidiu diretamente na criação de psicoterapias, e as bases neurobiológicas nas amplas práticas da psiquiatria, e consequentemente na síndrome depressiva. (LOPES, 2005  apud ASSUMPÇÃO,  OLIVEIRA,  SOUZA, 2018.).

    As divisões que Krapelin propôs para classificar as doenças mentais foram utilizadas por mais de um século. Segundo ele, haviam os transtornos afetivos e as psicoses esquizofrênicas.  No entanto, as divergências surgem quando ele classifica a melancolia com um estado de psicose maníaco-depressiva, teoria amplamente criticada por  Adolf Meyer, para o qual a depressão não se limitava a  uma única categoria.  Meyer também sugeriu, em 1905, tanto a eliminação do termo "melancolia", quanto a adoção definitiva do termo "depressão".   Em 1917, Freud publicou o artigo "Luto e Melancolia", destacando a melancolia como uma ampla área clínica com interferências somáticas e psicogênicas. Ele argumentou que a melancolia leva a um empobrecimento do ego, resultando em um delírio de inferioridade, insônia e inibição do apetite. Freud também sugeriu que a melancolia poderia levar a tentativas de suicídio e se transformar em mania. Na segunda metade do século XX, as abordagens cognitivas e comportamentais propostas por Aaron Beck começaram a contribuir para os estudos da depressão. Essa abordagem sustenta que os sintomas depressivos estão associados a disfunções de pensamento, não a formas inconscientes.
         Com os avanços científicos e o aumento do interesse popular, o mercado de saúde mental cresceu a partir da segunda metade do século XX. Isso levou a um amplo acesso a psicofármacos e incentivou a análise de substratos neurobiológicos de diferentes transtornos mentais, incluindo a depressão. Na década de 1970, os farmacologistas russos Izyaslav Lapin e Gregory Oxenkrug postularam que um nível insuficiente de serotonina em certas regiões cerebrais poderia levar à depressão. Eles também descobriram a Depressão Isquêmica Subcortical (DIS), que pode ser detectada por meio de exames laboratoriais e fornece um diagnóstico científico específico da depressão baseado em mecanismos fisiopatológicos. Os anos 90 foram chamados de "a década do cérebro" devido aos avanços científicos na compreensão e tratamento das doenças mentais. O advento dos psicofármacos e a criação da Organização Mundial da Saúde impulsionaram a tentativa de construir uma classificação internacional das doenças.


FONTE: ASSUMPÇÃO, OLIVEIRA, SOUZA. Depressão e Suicídio: uma correlação. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas v. 3, n. 5, jan./jun. 2018 – ISSN 2448-0738. Acesso em 06 de Junho de 2024. 

 

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